O primeiro mês

Há um mês atrás, por volta da 24h30 ouviu-se um estrondo no patamar das escadas da minha casa.

Desde o fim-de-ano, que me andava a deitar bem cedinho, sentia cada vez mais sono e vontade de descançar, de me esticar, e no dia 6 de Janeiro, dia de Reis não foi diferente, deitei-me cedinho eram umas 22h45, estava bem recostada com o meu mais-que-tudo ao meu lado agarrado ao computador, a enviar e-mails de trabalho e a jogar o Pro Evolution Soccer 2009.

Tipicamente à homem da casa o meu mais-que-tudo assim que ouviu o estrondo, fez-me shiuuuu e foi até ao hall da entrada ver o que se passava, claramente que não havia ladrão nenhum e que tudo não passava de um ximfrim dos vizinhos do lado que ainda andavam em mudanças.

Ora quando voltava para a cama, ouve a voz da sua queridinha, "rebentaram-me as àguas"... "oh, não vale gozar!!"... "não sério rebentaram de verdade".

Por volta da 1h20 da manhã, dei entrada na MAC, como que a fazer xixi pelas pernas abaixo, depois de ter tomado uma banhoca em casa e de achar que estava livre do liquido amniotico. Fui de imediato atendida, apesar das urgências estarem à pinha, afinal eu já estava em trabalho de parto.

Perguntei várias vezes às enfermeiras se lá para as quatro da madrugada já estaria despachada, e nenhuma delas me respondeu que não, sem antes dar uma risadinha irritante. Bem sei que o João é o meu primeiro filho, mas caramba, eu tinha um colo minímo desde as 28 semanas.

O tempo foi passando e eu não tinha grandes contrações, dizia para comigo, isto de ter um filho é facil, tão fácil que ainda tirei um soninho ligada ao CTG até às 4h30, altura em que de facto as dores começaram a manifestar-se e em que evidentemente me tornei íntima da melhor amiga das grávidas em trabalho de parto, a Sra. D. Epidural.

Depois de travar conhecimento com a Sra. D. Epidural, voltamos a tirar um soninho até às 8hoo da madrugada, digo voltamos a tirar um soninho, porque o meu mais-que-tudo, também dormiu com os seus braços cruzados na beirinha da minha cama.

Bom, por volta das oito da manhã, recebo os cuidados de uma enfermeira extraordinária, que me ajudou com tudo o que precisava e a quem me queixei que as dores estavam a começar a aparecer novamente, ora esta valente queixa valeu-me um segundo encontro com a minha melhor amiga daquela madrugada e às 8h30 com quatro dedos de dilatação levei o reforço da epidural.

Uns minutinho depois, eram ai 20 para as nove quando a anestesista entra no quarto e pergunta como me estava a sentir, afinal não existem relações sem decepções, e a Sra. D. Epidural decepcionou-me ao provocar-me um quebra de tensão às 5h00, o que não queriamos que se repetisse no segundo encontro, assim estava preparada e tinha a Dra. ali ao lado, mas não, nessa altura, às 20 para as nove eu não me queixei com quebras de tensão, só dizia, " já o sinto tão em baixo, acho que ele quer nascer!".

- "Sr. enfermeiro, veja lá esta senhora que à 10 minutos tinha quatro dedos de dilatação e agora diz que sente o bebe a querer nascer!" - diz a anestesista, com o ar mais "cala-te mas é que não dilataste seis dedos em 10 minutos".

Como eu não estava a inventar absolutamente sensação nenhuma, em cinco minutos, houve tempo apenas para preparem a cama, e para os enfermeiros discutirem sobre quem é que ia ajudar naquele parto.

Com as pernas meias bambas, sobre o efeito da epidural e com os ouvidos cheios do meu mais-que-tudo a dizer "ainda bem que não sou mulher!" começei o periodo de expulsão às 8h45 e às 9h10 nasceu o bebé mais lindo que alguma vez eu já tinha visto.

Veio ao mundo com 2.788 gr, 48 cm, e com uma paz e serenidade indiscritiveis.

Passado um mês, recordo o momento mais feliz da minha vida, o dia em que o João nasceu, o primeiro de muitos dias em que o peguei ao colo, em que o abraçei lavada em lágrimas e lhe segredei ao ouvido, "Que Deus te abençoe, meu anjinho".